
A série estreou no último dia 25* e é protagonizada pela cantora e compositora Liniker, que estreia na dramaturgia com a participação na produção. Na trama, Liniker interpreta Cassandra, uma mulher trans que finalmente conquistou sua liberdade após 30 anos.
Cassandra é uma mulher simples, que tenta sobreviver na cidade grande com o trabalho de motogirl fazendo entregas por aplicativo para custear o aluguel em uma pequena kitnet. Além disso, ela busca dar os primeiros passos na carreira artística cantando em um bar de amigos. A vida da personagem acaba dando uma remexida quando Leide – uma mulher com quem Cassandra se relacionou antes da transição – reaparece com um filho de 10 anos, afirmando ser fruto dessa breve relação.
De imediato, Cassandra rejeita a ideia de ser “pai” de uma criança, isso a faz revisitar traumas e acende desconfortos que ela não deseja lidar. Gersinho mora com Leide dentro de um carro, na rua, e a mãe passou esses 10 anos tentando sobreviver e sustentar o filho como vendedora ambulante nos semáforos da cidade. A situação financeira dos dois comove Cassandra, mesmo se negando a aceitar a ideia de ter um filho com outra mulher, então ela leva os dois para passar uma noite na kitnet onde mora, e é assim que começa essa aproximação confusa e cheia de conflitos internos para Cassandra.
Inclusive, o conflito interno é algo que foi muito bem transmitido ao público, já que é perceptível essa dualidade para a protagonista, que mesmo lutando para ser uma mulher independente e livre, começa a sentir afeição pela criança, principalmente ao ver o quanto Gersinho passou a admirá-la. Esse conflito interno para Cassandra, que não deseja ter em sua vida o fruto de uma relação com uma mulher cisgênero, parece não ser uma questão para Gersinho. Para ele, Cassandra é “seu pai” e pronto. Ao longo da série vemos a evolução do personagem ao, finalmente, respeitar a identidade de gênero de Cassandra e parar de chama-la de pai. A criança passa, então, a sentir uma profunda admiração pela mãe que acabou de conhecer, e essa relação familiar começa a ser construída, seja com o Gersinho querendo imitar as roupas, o canto, ou simplesmente chamando-a para uma reunião da escola.
A criança passa, então, a sentir uma profunda admiração pela mãe que acabou de conhecer
Além da relação com o filho, com os amigos e com Leide, a série mostra a relação de Cassandra com o simpático Ivaldo, seu namorado, e temos também o retrato do significado da afetividade romântica para pessoas transexuais. Cassandra e Ivaldo têm uma relação aparentemente saudável e sem regras, sem segredos e sem ficadas escondidas. Eles saem, se beijam em público e se divertem. Mesmo com algumas reviravoltas, é interessante e bonito de ver essa construção também.
Com a linda e emocionante atuação de Liniker, “Manhãs de Setembro” embala o espectador nesta jornada incrível de redescoberta, autoconhecimento e construção de família e afeto. A série tem uma importância imensurável para o cenário do audiovisual brasileiro, afinal é uma produção protagonizada por uma mulher trans negra E retinta. O Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo, sendo as mulheres negras trans a esmagadora maioria das vítimas desses assassinatos. Uma série que fala, de forma leve, sobre uma mulher negra trans, vivendo sua vida, buscando sua liberdade, é extremamente importante e necessário. Precisamos de mais produções como essa! Precisamos ver pessoas trans na mídia para além da marginalização.
Assista abaixo o trailer oficial de Manhãs de Setembro:
*Conteúdo publicado originalmente em 2021